Que venha o novo

euacredito2015, enfim, chega a seu ocaso. O ano que ia trazer o passado de volta o fez da forma mais melancólica possível, obrigando-nos a um período escasso em celebrações e farto em frases de efeitos e vexames. 

De fato, volvemos ao tempo em que os clubes personificavam-se em personagens pitorescos que arrebanhavam benefícios pela elevação do tom de voz e não pela qualidade de seus argumentos. A notícia ruim é que nossos adversários não vieram conosco. Do contrário, seguiram à frente, buscando novas alternativas de se modernizar, e nós, de tanto olhar para trás, acabamos por nos tornar um retrato caricato daquilo que já fomos outrora.

Prova disso foi a reunião da última terça-feira, dia 29, quando o Conselho Deliberativo do Vasco iria aprovar a proposta orçamentária para o ano que se aproxima. Não passou na Globo, não contava pontos contra o rebaixamento mas, vai por mim torcedor, você deveria ter acompanhado tanto quanto dedicou-se à batalha contra o Coxa no último dia 6 que decretou nossa mais recente queda.

A quem não conhece uma reunião desse tipo, convém esclarecer que a política do Vasco é composta por 300 conselheiros. 150 deles são natos, escolhidos pelo Presidente, a maior parte formada por senhores de avançada idade que, ou não desejam comparecer ao clube com assiduidade ou o fazem sempre em concordância com as orientações de Eurico. Os demais 150 dividem-se pelas eleições. Como a chapa “Volta Vasco, Volta Eurico” foi a vencedora, teve direito a 120 cadeiras. E as 30 restantes destinam-se a quem se propõe a fazer oposição.

Repare, comigo, estimado leitor. Num cenário de 300 pessoas, cerca de 90% delas estão em acordo com quem manda. Agora, seja sincero, você acha que é fácil fazer parte dos 10% que restam para discutir, questionar, criticar, apresentar mudanças?

Não é.

Como não foi na última terça, quando parte da oposição se absteve de votar sobre o orçamento para 2016 pelo simples de fato de que ele não foi apresentado com tempo hábil para uma análise criteriosa, nem mesmo ao conselho fiscal. É como se você tivesse de responder ao pedido de seu filho para emprestar o seu cartão de crédito para uma breve viagem, sem saber se ele vai para Iguaba ou para Nova York, sem conferir se você tem limite disponível, sem ideia de se ele se hospedará em um albergue ou em hotel cinco estrelas. Em suma, você tem que dizer sim ou não às cegas. Você responderia?

Além disso, o Vice-Presidente de Marketing do clube, Marco Antonio Monteiro, explicou o que será o novo programa de sócio-torcedor. Como esperado, distanciou-se ainda mais o vascaíno da vida política do clube. Pagará-se mais caro para ser sócio proprietário e parcelamento em, no máximo, três parcelas. A categoria sócio-geral está suspensa sabe-se deus até quando, sob a justificativa de não “canibalizar” a chegada de novos sócios-torcedores, que são aqueles que geram receita para o clube a troco de desconto em ingressos, mas sem poder dar um pio em quem nos dirige. E tudo para funcionar em março, sob a batida desculpa do tempo para ajustar o sistema. Talvez até lá resolvam o problema que eu, você e milhares de sócios estamos tendo para pagar as mensalidades. Ou quem sabe a diretoria acredite numa provável conquista de um estadual esvaziado (com Flamengo e Fluminense disputando com times reservas) como chamariz para o seu programa.

Afora o que foi falado, houve uma enfastiante prestação de contas por parte do Presidente que, se em seu conteúdo não revela nada de muito pragmático, ao menos dá mostras sutis de que Eurico acusou o golpe pela sua incapacidade de sustentar bravatas. O homem do “comigo não cai” ou da exaltação à “gestão de botequim” achou que deveria justificar-se publicamente pelo ridículo resultado de 2015. Lógico que ele não abriu mão da postura presunçosa e nem se dispôs a calçar sandálias de humildade para tanto. Mas se viu na obrigação de falar. É um pequeno detalhe, mas que pode mostrar muita coisa.

Aliás, vascaíno, para o ano novo que se avizinha, procure os detalhes. Tão importante quanto saber se o Pikachu chega ou se o Nenê vai é entender o que fazem aqueles senhores que se reúnem periodicamente para pensar os rumos que o Vasco seguirá. O copo está pela metade. Haverá os que o considerarão meio vazio sob os argumentos de que é impossível mudar, de que todos lá dentro são iguais, de que acabou. Eu não. Vou pelo outro lado. Tenho uma arredia teimosia em não apenas enxergar o copo meio cheio mas de fazer o que for possível para enchê-lo por completo, para que o Vasco volte a brindar títulos e conquistas à altura de sua grandeza. 2015 foi um ano de pequenas mudanças. Mas que mudaram. Caiu o Vasco, mas caiu também o mito de que com Eurico não caía. Se nos roubaram na arbitragem, levaram junto a ilusão de que com Eurico não seríamos roubados. Se novos sócios não chegarão em massa por agora, muitos associados já se levantaram da cadeira da crença cega para sentar-se na fileira da dúvida pertinente. Resgatar o verdadeiro Vasco é tarefa árdua, trabalho de formiguinha mesmo. Encher esse copo cruzmaltino terá de ser via conta-gotas. Mas se de gotas é que feito um oceano, eu ainda carrego comigo um mar de esperança de que, sim, é possível mudar.

Para o seu 2016, Vasco, eu desejo que o passado se enterre por lá e que um pedaço de futuro brote em cada vácuo deixado por aqueles que ainda insistem em caminhar para trás. Se ainda leva tempo para o sol voltar a brilhar na Colina, tudo bem. A minha vascainidade não veio com prazo de validade. Essa, eu garanto, não tem chances de acabar.

Feliz ano novo a todos!

 

 

7 pensamentos sobre “Que venha o novo

  1. E minha tese de que o euvírus é um mulambo só se reforça na minha cabeça: “Por fim, a celeuma da semana em São Januário é a provável contratação de Marcus Duarte, que vinha atuando na área de ticket do Maracanã, para substituir Bernardo Pontes, na gerência de marketing. Com passagem pelo Vasco na gestão anterior de Eurico Miranda, o profissional também trabalhou durante o mandato de Patrícia Amorim, no Flamengo. Nas redes sociais, diversas fotos do provável novo funcionário com a camisa do clube da Gávea foram postadas, provocando a ira da torcida.”

  2. O poço não tem fundo, cada vez mais a coisa piora, digamos que hoje 03/01/2016, a presidência do Vasco fosse assumida por um excelente gestor, já seria bem difícil de sair do buraco em que estamos encarcerados, pois, temos os mandatàrios do futebol aqui no Brasil que jà fazem de tudo para destruir o time da colina, mas quando quem deveria defendê-lo é o primeiro a tomar medidas contra o próprio patrimônio, jà era, eu não acredito, infelizmente sou obrigado a reconhecer que estamos apequenados e que por muitos anos não veremos mudanças neste quadro que mais parece um filme tipo sexta feira 13, nunca tem fim!
    Fui Vasco na glória, não deixei de ser nas muitas derrotas ocorridas nos últimos 15 anos e não pretendo abandonar a barca, mas uma coisa não me ilude, do jeito que vai, vamos demorar uns 15 anos ou mais para voltarmos a ser grande novamente, isso se voltarmos, porque na verdade, estou sem esperançad nenhuma!

  3. Meu amigo, eu nunca me empolguei com esse plano de sócios a ser lançado pelo Vasco! Eu sabia que o safado iria fazer de tudo pra dificultar a entrada de novos sócios querendo mudanças! Exatamente o que vai acontecer! Maldito seja quem trouxe esse morto vivo de volta!

  4. Eu não sei se eu choro pela situação do clube ou se aplaudo seu texto! Estamos numa situação tão feia, que o medo é que SE o eurico sair, vai deixar o Vasco tão ferrado. que vai ser dificil reerguer o clube!
    Tudo que nos resta como torcedor é procurar nos unir em torno do clube e cobrar de todas as formas possiveis! Esse lance dos socios é uma das maiores vergonhas que eu vi um clube fazer com seu torcedor nos ultimos anos!!
    SV

  5. Animal!! JC, dessa vez vc foi melhor do que de costume. Sou vascaíno e jamais vou deixar de ser! Grande abraço e tenha certeza de que dias melhores virão!

Concorda, discorda, gostou? Opine você também.