O torcedor é, acima de tudo, um sujeito de fé. Pra acreditar no seu time, eles ignora fatos, despreza a lógica, relativiza a matemática e se mostra mais cético que São Tomé, se recusando a acreditar nos problemas mesmo quando os vê.
O torcedor de um clube que vive a situação que o Vasco atravessa agora precisa de mais fé ainda. E uma das últimas tábuas da salvação na qual os vascaínos têm se agarrado é o mito do “não temos elenco para estar onde estamos“.
Mito, sim. Porque não há absolutamente nada que confirme esse pensamento.
Os fatos estão aí para qualquer um ver. O Vasco está há 13 rodadas – e ficará, no mínimo, outras três – no Z4. Seus números são abissalmente ruins em todos os quesitos e só encontram comparação com o nível das atuações que tivemos na absoluta maioria dos jogos. Ainda assim, contrariando a lógica, alguns vascaínos ainda creditam nossa campanha pra lá de pífia aos treinadores, à falta de confiança ou da sorte. E seguem achando que há pelo menos quatro elencos piores que o nosso.
E mesmo quando temos diante de nossos olhos erros gritantes e imperdoáveis dos jogadores vascaínos ou quando não conseguimos jogar satisfatoriamente mesmo contra esses possíveis quatro elencos piores, ainda há quem encontre argumentos para se agarrar ao mito.
Se analisarmos o time base – se é que ele existe – com olhos mais realistas, o que teremos?
- Um bom goleiro, possivelmente o mais regular do time;
- Um lateral direito jovem, com evidentes limitações em fundamentos essenciais à função que exerce;
- Um miolo de zaga que foi titular na Série B em 2013 (e que passou apertos mesmo não estando na elite);
- Um lateral esquerdo limitadíssimo, vindo de um time que ano passado caiu para a Série C;
- Um volante muito bom no combate, mas que além de se limitar à marcação, já está em fim de carreira;
- Outro volante que só sabe combater cedido por um dos melhores times da atualidade, mas que só veio por não ter qualquer chance de titularidade por lá;
- Um zagueiro improvisado como volante, que chegou ao Vasco como reforço para a Série B e nem nessa competição conseguiu ter muitas chances;
- Um meia com mais de 30 anos que chegou ao clube depois de dois anos atuando no irrelevante futebol coreano;
- Um atacante com um dos melhores currículos entre os jogadores que atuam no Brasil, mas que passou os dois últimos anos praticamente inteiros no banco e está longe do seu auge técnico e físico;
- Outro atacante veterano, que ficou famoso pela frequência com que perde gols (algo assumido pelo próprio), vindo de três temporadas no futebol dos Emirados Árabes e que antes de chegar ao Vasco não atuava há vários meses.
Para não me alongar ainda mais, nem falarei dos reservas. Até porque eles não diferem muito da mistura de jogadores novos com carreiras inexpressivas e veteranos famosos com carreiras perto do fim.
A questão é que nomes como Martín Silva, Rodrigo, Guiñazu, Andrezinho, Dagoberto e (vá lá) Herrera só dão a impressão de que temos um time bom porque não conseguimos ignorar o que eles fizeram no passado. Mas, tirando nosso goleiro, todos estão longe dos seus melhores momentos na carreira. É o famoso elenco “bom no papel“. Ou nos livros de história, se preferirem.
Avaliar um elenco “no papel” é um engano que a torcida do Vasco já cometeu em 2008 e 2013. E, mais uma vez cegados pela fé, o repetimos agora. O problema é que mesmo no papel, o atual elenco do Vasco só poderia ser considerado aceitável anos atrás. Em 2010, talvez. Em 2015, quem poderia fazer a diferença entre o monte de jogadores mais ou menos que temos, está longe da melhor forma. E estamos todos – ou pelo menos os que conseguem aliar a razão ao ato de torcer – vendo isso se confirmar com as fracas atuações do time, piores que a grande maioria dos nossos concorrentes no Brasileiro.
Não pretendo com essa coluna fazer com que o esperançoso vascaíno perca sua fé Só acho melhor que nossa torcida se agarre a outro motivo para ter esperança. Me parece bem mais plausível ter fé que a grandeza do Vasco ou que a mística da armadura cruzmaltina nos salve.